O Estado de Pernambuco, como toda a região Nordeste, apresenta uma grande variedade de produtos artesanais.


Além do tipo figurativo, composto por peças que são verdadeiras obras de arte, há uma enorme quantidade de produtos utilitários, indispensáveis no dia-a-dia da nossa população. Pelos principais ramos, o artesanato pernambucano está assim dividido: Cestaria e trançados; bordados e rendas; cerâmica; couro; tecelagem; madeira; metal; tapeçaria.

Cerâmica - É a argila modelada e aquecida a ponto de manter a forma definitiva desejada. Basicamente, existem dois tipos: a cerâmica utilitária e a ornamental, embora atualmente grande número de peças de cerâmica utilitária seja utilizada para efeito decorativo. O processo de produção é único: pegar determinada quantidade de argila, misturá-la à água para formar o barro destinado à curtição durante dois ou três dias. Depois, vem a etapa do amassamento para tornar o barro homogêneo. O barro ganha consistência pastosa, ideal para a modelagem. As peças modeladas passam pela fase de secagem e, depois, vem a etapa do cozimento, geralmente em fornos rudimentares. As peças são: vasos, panelas, jarros, bonecos e outra infinidade de objetos.

Cestaria e trançados - São muitos os artigos produzidos com fibras vegetais: bolsas de vários tamanhos e modelos, tapetes, chapéus, cestas, esteiras, sacolas, estandartes etc. As fibras que servem de matéria-prima também são muitas, como o sisal (ou agave), folha de carnaubeira, folha de bananeira, de coqueiro, de ouricuri, buriti, catolé e outros. Além disso, também servem como matéria-prima: linhas de coser, cordões, cordas, linha de náilon, cola e arame. Boa parte dos artigos comercializados em Pernambuco vem de um dos maiores produtores nordestinos de artigos desse tipo, o Rio Grande do norte, onde as matérias-primas predominantes são o sisal e a palma da carnaubeira.

Bordados - O bordado, executado sobre o tecido com agulha e linha, difere da renda porque esta não é aplicada sobre funda já existente: ela mesma é um tecido de malhas abertas e com textura delicada, cujos fios se entrelaçam formando um desenho. Os bordados existem em vários tipos: ponto-de-cruz, ponto-cheio, labirinto, renascença e outros. Já as rendas mais famosas são as de bilros. Tanto com o bordado quanto com as rendas, são confeccionados artigos de cama e mesa e peças de vestuário.

Redes - Grande parte das redes produzidas atualmente em Pernambuco já são através de processos industriais. Mas, em algumas regiões como, por exemplo, o município de Tacaratu - ainda está presente o processo artesanal, através do qual a rede é produzida num penoso trabalho de mais de 20 etapas. A parte mais pesada do trabalho (a de tecelagem do pano que serve de corpo da rede) é feita através dos chamados teares de batelão. Outras partes fundamentais são as de confecção da corda de trancelim e do punho. A matéria-prima principal para o fabrico da rede é o fio de algodão.

Artigos de metal - Feitos com matérias-primas como o zinco, bronze e sucata e latão, há uma grande variedade de peças artesanais em metal. Exemplos: chocalhos, campainhas, sinetas, cinzeiros, castiçais, bacias, crucifixos, brasões, etc. Com sucata de latão, também são produzidos vários tipos de brinquedos infantis, como carros, trens, cata-ventos, miniaturas de carrosséis e rodas-gigantes, entre outros. O município de Gravatá é um grande produtor de brinquedos infantis através de processo artesanal. Na cidade de Cachoeirinha, conhecida com a terra do couro e do aço, entre as peças em metal mais vendidas estão o estribo e a espora.

Artigos de couro - São artigos como bolsas, cintos, chapéus, sapatos e outros, do tipo popular, destinados à população de baixa renda. Além desses produtos, também são confeccionados arreios para cavalo, bainhas para faca, moringas, cartucheiras, gibões e selas para montaria em animais. Os maiores centros produtores de artigos artesanais em couro do Estado são os municípios de Toritama e Timbaúba, produtores sobretudo de calçados, bolsas e cintos. As principais matérias-primas utilizadas são o couro de bovinos ou caprinos e borracha (reaproveitamento de pneus).

Artigos em madeira - Como a cerâmica, os artigos artesanais em madeira dividem-se em dois tipos: o utilitário e o decorativo. Entre as peça utilitárias, destacam-se a colher de pau, cabides, saleiros, açucareiros, etc. Entre as peças decorativas, destacam-se as talhas. Segundo o pesquisador Olímpio Bonald Neto, a arte do entalhamento, de origem européia, chegou a Pernambuco em meados do Século XVI, com a construção de templos e fortificações. O trabalho desses primeiros carpinteiros também foi utilizado pelos engenhos de açúcar, para confeccionar as moendas, os eixos, as rodas d'água, as caixas de transportar açúcar, além de abrir as marcas dos senhores de engenhos em peças nobres. As madeiras mais utilizadas eram a sucupira, massaranduba, pau-d'arco, pau-brasil, que na época existiam em abundância na Mata Atlântica. Além das talhas, existem também os brinquedos populares em madeira, como peões, iô-iôs e o mané-gostoso (pequeno boneco que, acionado, imita um ginasta numa barra).

Principais localidades produtoras de artigos artesanais no Estado

Ramos Localidades

Cerâmica: Igarassu, Lagoa de Itaenga, Olinda, Nazaré da Mata, Surubim, Sâo Lourenço da Mata, Recife e Tracunhaém.

Cestaria e Trançado: Águas Belas, Arcoverde, Alagoinha, Barreiros, Caruaru, Canhotinho, Fazenda Nova, Floresta, Itamaracá, Garanhuns, Petrolândia, Jaboatão, Petrolina, Jupi, Recife, Tamandaré, Timbaúba, São Lourenço da Mata, Serrita.

Bordados e Rendas: Poção, Pesqueira, Tacaimbó, Alagoinha, Bezerros, Caetés, Carpina, Fazenda Nova, Limoeiro, Jataúba, Paudalho, Paulista, Ribeirão, São Lourenço da Mata, Recife.

Tecelagem: Tacaratu, Itacuruba, Caruaru, Carpina, Itamaracá, Goiana, Limoeiro, Timbaúba, Toritama, São Lourenço da Mata, Recife.

Madeira: Gravatá, Águas Belas, Olinda, Caruaru, Bezerros, Água Preta, Fazenda Nova, Cupira, Itamaracá, Ibimirim, Palmares, Panelas, Quipapá, Petrolina, Rio Formoso, Recife, Surubim.

Couro: Cachoeirinha, Caruaru, Timbaúba, Águas Belas, Cupira, Panelas, Fazenda Nova, Floresta, Goiana, Limoeiro, Palmerina, Pedra, Santa Cruz do Capibaribe, Tacaratu, Toritama, Recife.

Metal: Gravatá, Bezerros, Agrestina, Água Preta, Caruaru, Cabo, Cupira, Fazenda Nova, Panelas, Petrolina, São Caetano, Surubim, Recife.

Tapeçaria: Rio Formoso, Olinda, Recife, Quipapá, Barreiros, Limoeiro.

Fonte: Banco do Nordeste. Incluindo artesanato figurativo e utilitário

Alto do Moura - Distante 7 km do centro de Caruaru, é um pequeno bairro localizado no alto de um morro, tem apenas duas fileiras de casas, quase todas habitadas por artesãos que ganham a vida modelando bonecos de barro, conhecidos como "bonecos de Vitalino", numa referência ao primeiro artista do lugar que ganhou fama nacional. O bairro ganhou da Unesco o título de maior centro de arte figurativa das Américas. É lá que fica, instalado numa modesta casa onde o artista viveu, o Museu Mestre Vitalino.

Tracunhaém - Município localizado na zona da mata sul do Estado, a 63 km do Recife, famoso por ser um pólo cerâmico. Os ceramistas dedicam-se, especialmente, a imagens de santo em barro. Entre seus principais artesãos estão Zezinho de Tracunhaém, Nilton Tavares e José Joaquim da Silva. Outro artista que tem ligações com o pólo é Thiago Amorim, residente em Olinda, mas que ganhou notoriedade como ceramista em Trachunhaém, entre os anos 1975/1985. Os santos produzidos pelos artesãos locais são muito famosos. Quando esteve no Recife, em 1980, o Papa João Paulo II. levou uma imagem de Nossa Senhora do Carmo produzida em Tracunhaém. Consta que os primeiros artesãos locais foram os índios tupis, que modelavam cachimbos de barro.

Artesãos

Ana das Carrancas - Ceramista, Ana Leopoldina Santos Silva, a Ana das Carrancas, nasceu em 1923, em Santa Filomena, que à época era distrito de Ouricuri. Começou a trabalhar aos sete anos de idade, ajudando a mãe a fazer potes e panelas de barro para vender na feira. Em 1932, passou a morar em Petrolina e continuou o fabrico de cerâmica utilitária por mais de 20 anos. Quando a mãe deixou o barro, por problemas de saúde, e o padrasto (que era cego) morreu, a jovem Ana passou a sustentar a família com o seu duro trabalho.

O barro para o fabrico das panelas e potes era extraído de um terreno próximo ao galpão onde ela trabalhava. Mas, com o crescimento da cidade, a matéria-prima começou a escassear e ela teve que percorrer as margens do rio São Francisco à procura de barro. E foi dessas andanças que surgiu a sua arte: toda vez que chegava ao rio, Ana via as carrancas (de madeira) multicoloridas nas proas das barcaças. Um dia, resolveu fazê-las de barro "para ver no que dava".

Fazia o barco completo, com toldo, leme e, na proa, a ameaçadora carranca. O trabalho teve aceitação e, logo, Ana das Carrancas virou nome famoso. Depois, deixou de fazer as barcaças, passando a esculpir apenas a carranca, peças de tamanhos variados, vendidas principalmente a turistas, proprietários de hotéis e colecionadores.

Com a fama, veio a oportunidade de participar de feiras em vários estados brasileiros e suas peças já chegaram a vários países da Europa. Suas peças têm olhos vazados, forma que ela encontrou para homenagear o marido, José Vicente de Barros, cego de nascimento, que sempre participou do trabalho fazendo os bolos de barro para a produção das peças.

Uma de suas filhas, Ângela Lima, nascida em 1979, segue a carreira de ceramista. Foi Ana das Carrancas quem primeiro usou o barro como matéria-prima para a produção das carrancas que tradicionalmente são feitas em madeira. Ela morreu em Petrolina, a 01 de outubro de 2008.

Bigode - Escultor José Alves da Silva, o Bigode, nasceu em 1929, em Goiana, onde começou a trabalhar em madeira aos seis anos de idade. Suas primeiras peças foram duas bonecas, esculpidas em mulungu para suas irmãs. Depois, começou a produzir santos. Em Olinda, para onde mudou-se em 1949, foi sapateiro, especializando-se na produção de sapatos Luiz XV "para moças ricas". No final da década de 1960, abraçou de vez a profissão de escultor e entalhador e suas peças ganharam fama. Chegou a ministrar vários cursos para artesãos mirins na Região Metropolitana do Recife. Produz especialmente santos, anjos, Cristo, Buda etc. Suas peças variam de 60 cm a um metro, esculpidas ou entalhadas em madeira velha ou sobras que compra na serrarias.

Domingos - Natural de Petrolina, Domingos Trindade Lopes, ou simplesmente Domingos, aos 12 anos de idade trabalhava como ajudante de pedreiro. Em 1971, começou a fazer as tradicionais carrancas de madeira, talhadas em cedro ou imburana. Suas carrancas variam de tamanho -entre 40 cm e 1,5m- e nunca serviram como figuras de proa de embarcações, são apenas peças decorativas. No princípio, ele inspirou-se no trabalho da sogra (Ana das Carrancas, que utiliza barro) e, depois, passou a usar como modelo uma peça do mais famoso carranqueiro de todo o Vale do São Francisco - o baiano Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany (1882-1985). A partir da concepção e dos cortes do grande mestre, desenvolveu seu estilo e conquistou espaço.

Dona Biu - Dona Biu é o nome popular de Severina Bruno da Silva, artesão especializada no fabrico de bonecas de pano. Nasceu em 1919, em Jaboatão, filha de trabalhadores rurais de engenho de cana-de-açúcar. Começou a trabalhar no artesanato ainda jovem, entre os 17 e 18 anos de idade, para complementar a renda da família. Utiliza retalhos de tecidos, algodão e arame (uma novidade nesse tipo de brinquedo) para confeccionar as suas bonecas, tradicionalmente de 15 cm e outras especiais que chegam a 50 cm. Costureira, analfabeta, teve 17 filhos, dos quais 13 sobreviveram.

Daniel Santeiro - Escultor, Benedito Belo da Silva, o Daniel Santeiro, nasceu em 1950, em São Benedito do Sul. Aos sete anos de idade já confeccionava seus brinquedos: bonecos de mamulengo, bengalas e carrinhos de madeira. Produz suas esculturas, de dois a quatro metros, sobretudo em troncos de jaqueira, "por ser um pau que agüenta muitos anos de sol e chuva e não precisa envernizar". Seus santos são de estilo barroco, contendo semelhanças com o trabalho de Aleijadinho, desenhados com um machado no próprio ato de execução das peças. Quando era criança, fugiu de casa e ganhou o apelido de Daniel de um motorista que lhe deu carona até o Recife em um caminhão. Na Capital, foi parar num orfanato onde aprendeu a pintar. Além de santos, produz pequenas esculturas de Lampião e Maria Bonita. Em 1973, participou de uma exposição no Rio de Janeiro.

Julião das Máscaras - Bonequeiro, João Dias Vilela, o Julião das Máscaras, nasceu em Olinda, a 06/02/1924 e morreu na mesma cidade, a 16/03/1997. Confeccionava máscaras carnavalescas e foi um dos primeiros a produzir os famosos bonecos gigantes do carnaval olindense. Filho do artesão Julião Dias Vilela, de quem herdou as técnicas do trabalho no barro, na madeira e com massas plásticas, desde menino trabalhou na produção de máscaras carnavalescas em papel.

Eram máscaras de gente e de bicho, palhaços, arlequins, caveiras, além de cabeças de urso de carnaval, leões e outros bichos. Passado o período carnavalesco, produzia pipas, papagaios, balões ou estrelas de São João, pois sobrevivia do seu trabalho como artesão. Trabalhou, também, no jogo do bicho e consertando móveis, foi pescador, empalhador de cadeiras, restaurador, animador de pastoril, produtor de bonecos de mamolengo e brinquedos de madeira e, muitas vezes, deu uma de ator, vestido de Papai Noel para atrair freguesia em casas comerciais.

Produziu mais de 50 bonecos gigantes para agremiações carnavalescas de Olinda, entre os quais o Barba Papa, Mulher do Dia, Menino da tarde, Geni, Carlitos, O Filho do Homem da Meia-Noite, Garoto do Amaro Branco e O Guarda. Em julho de 1987, participou da 10ª Feira Brasileira de Artesanato, realizada no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Morreu pobre, deixando vários seguidores, inclusive os seis filhos.

Manuel de Camaragibe - Filho de carpinteiro, Manuel de Camaragibe nasceu em Santana do Ipanema, Alagoas, e quando criança trabalhou na agricultura e em olarias. Depois, foi ajudar o pai na carpintaria, onde aprender fazer móveis. Depois, mudou-se para o Recife, fixando residência no então bairro de Camaragibe, onde até o início da década de 1970 trabalhou como pedreiro. Um dia, conheceu o artesão Daniel Santeiro, com quem começou a trabalhar como ajudante. Usando preferencialmente a jaqueira, seguiu o ofício e passou a produzir suas próprias peças, santos medindo entre 1,50m e 2,0m. Entre sua produção, também constam pequenas esculturas de animais e estátuas do Padre Cícero, Lampião e Maria Bonita. Os santos mais presentes na obra do artesão: São Francisco, Santa Tereza, N. S. da Conceição, Santa Luzia e São Sebastião.

Manuel Eudócio - Manuel Eudócio nasceu no Alto do Moura, Caruaru, em 1931, de uma família que ganhava a vida produzindo peças de cerâmica utilitária para vender na feira da cidade. Assim, conheceu o trabalho com o barro desde criança, quando fazia brinquedos para uso próprio, sem nenhuma outra pretensão. No final da década de 1940, com a chegada ao povoado do Mestre Vitalino (de quem foi aprendiz), passou a modelar bonecos para vender nas feiras-livres e nunca mais abandonaria a arte do barro. Sempre fez todo tipo de peças -Lampião, Maria Bonita, médico operando doente, casamento na roça, dentista extraindo dente etc.- mas nunca escondeu sua preferência pelo famoso boi de barro, uma das primeiras peças desse tipo de cerâmica. Pintadas a óleo ou sem nenhuma pintura.

Mestre Galdino - Ceramista, cantador de viola e poeta de cordel, Mestre Galdino (Manuel Galdino de Freitas) nasceu em 1928 e foi um dos artistas mais famosos do Alto do Moura, em Caruaru. Gostava de fazer moringas e monges, mas sua arte maior estava nos pequenos bonecos de barro. Para cada boneco que produzia, costumava escrever uma história que ia anotando num caderno - chegou a escrever mais de mil histórias.

Vaidoso, quando alguém indagava se havia aprendido o ofício com o Mestre Vitalino, ele respondia em versos: "Galdino é bonequeiro/e sou poeta também/tem boneco em minha casa/que bonequeiro não tem/na arte só devo a Deus/lição não devo a ninguém". Cuidadoso, depois de modelar as peças, deixava oito dias para secar. Após esse período, as peças iam para o forno (de tijolo, no fundo do quintal de sua casa) e passavam dez horas lá dentro. Finalmente, as peças ficavam mais quatro horas com o fogo apagado, "para desenfornar". Caso não seguisse todo esse ritual, dizia o mestre, "o bicho ficava encruado e feio".

Uma das mais famosas obras do Mestre Galdino, produzida no final da década de 1980, ocupava quase metade de sua mesa de trabalho. Era a história, em barro, de dois irmãos que resolveram casar e pagaram pelo pecado do incesto tendo 118 filhos deformados. Galdino trabalha na sua pequena casa, no Alto do Moura, com ajuda da mulher e dos cinco filhos. Antônio Galdino de Freitas, um dos filhos do mestre, é hoje outro famoso artista do Alto do Moura.

Mestre Vitalino - Ceramista, Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, nasceu a 10-06-1909, no sítio Campos, em Caruaru. Famoso por seus bonecos de barro (que aprendeu modelar quando tinha seis anos de idade) representando cenas ou tipos do Nordeste brasileiro, tais como boi, jumento, casamento matuto, cantadores de viola na feira, matuto em dia de batizado, mulher carregando lenha etc. Inicialmente, suas peças eram vendidas nas feiras como brinquedo de criança e só tempos mais tarde seriam vistas como arte, denominadas "bonecos de Vitalino".

Analfabeto, só quando adulto ele passou a assinar suas peças, depois que outros ceramistas passaram a copiá-lo. Em 1948, fixou residência no Alto do Moura, um povoado a 06 Km do centro de Caruaru e que, depois, seria considerado um dos maiores centros de arte figurativa da América Latina, tamanha a quantidade de ceramistas que ali se estabeleceram.

Tocador de pífano sem nunca ter estudado música ("fui aprendendo pela cadência, tirando do juízo"), expôs pela primeira vez os seus bonecos numa exposição de cerâmica pernambucana no Rio de Janeiro, organizada em 1947 pelo artista plástico Augusto Rodrigues. Em 1960, participou, na residência do industrial Drault Hermanny, na cidade do Rio de Janeiro, de uma Noite de Caruaru, durante a qual 37 dos seus bonecos foram leiloados e ele doou a renda para a construção do Museu de Arte Popular de Caruaru, ao qual depois também doaria outras 250 peças.

No mesmo ano de 1960, recebeu do governo do estão Estado da Guanabara a Medalha Sílvio Romero, atribuída "àqueles que contribuem para a divulgação do folclore nacional". Em 1961, a embaixada brasileira em Lima, Peru, realizou uma exposição individual do mestre. Vitalino morreu pobre, a 20/01/1963, deixando inúmeros seguidores, inclusive a mulher e filhos.

Suas peças originais estão espalhadas por todo o Brasil e também pelo exterior, como no Museu do Louvre, em Paris. Atualmente, a casa onde ele residiu até a morte, no Alto do Moura, é sede do Museu Mestre Vitalino. Em 1975, a Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro lançou o disco "Vitalino e sua Zabumba", com seis músicas gravadas nos estúdios da Rádio MEC, no Rio, em 1960.

Entre os filhos de Vitalino, praticamente todos se destacaram dando continuidade ao trabalho do pai: AMARO VITALINO, filho mais velho, nascido em 1934; MANUEL VITALINO, nascido em 1935; MARIQUINHA, a Maria José, que, além dos bonecos de tamanho tradicional, cerca de 10 cm, especializou-se em miniaturas; e SEVERINO VITALINO, irrequieto introdutor de novas figuras na produção desse tipo de bonecos.

"Eu aprendi tocar pela cadência, tirando tudo do juízo"

Além de ceramista e criador dos bonecos de barro, Vitalino também foi um excelente tocador de pífanos. Como não sabia escrever, nunca estudou música e explicava da seguinte maneira sua iniciação nessa área: "Fui aprendendo tocar pela cadência, tirando tudo do juízo". Ele tinha sua própria bandinha (ou zabumba, como também são chamadas as bandas de pífanos), da qual era o pífano principal, mestre e compositor.

A Banda do Mestre Vitalino era igual às outras da região, ou seja, tocava de tudo: acompanhava procissão (Vitalino era devoto de São Sebastião e, claro, do Padre Cícero), animava festas de casamento, batizado e outras. Nas cerimônias religiosas, o respeito era sagrado. Mas, nas "farras do mundo" as sopradas no pífano eram intercaladas por uma boa cachaça "pra aliviar o coração".

Em novembro de 1960, Vitalino viajou ao Rio de Janeiro, para participar de uma "Noite de Caruaru", organizada por intelectuais como os irmãos Condé, e levou junto a sua banda. O objetivo da festa era uma exposição de arte, mas a banda agradou tanto que acabou gravando, nos estúdios da Rádio MEC, seis músicas que em 1975, já depois de sua morte, fariam parte do disco "Vitalino e Sua Zabumba" lançado pela Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro.

Apesar de só ter ficado famoso por conta dos bonecos de barro, Vitalino tinha uma grande paixão pela música. Tanto que na sua mais conhecida foto ele aparece tocando pífano. Mas a maior apego do ceramista era, sem dúvida, com sua terra. Na viagem de volta do Rio de Janeiro, por exemplo, ansioso para chegar em Caruaru, por várias vezes ele pediu a um amigo que perguntasse à aeromoça "quantas léguas faltavam para chegar".

Neílton Santos - Escultor, Neílton Guedes dos Santos nasceu na Paraíba, em 1949, iniciou a carreira ainda criança, quando confeccionava bonecos de mamolengo. No início da década de 1970, mudou-se para o Recife e passou a produzir vários tipos de peças em madeira ou quenga de coco, tais como brinquedos, adereços e esculturas. Autodidata, utiliza em seu trabalho o Cajá (madeira difícil de lascar) e raízes e troncos de Panã -uma árvore de beira de rio ou de lagoa de água doce. Usa, também, frutos da cabaceira (o cabaço) para produzir rostos, cabeças, figuras de bichos, pássaros e bonecos. Formado em administração de empresas, tem o artesanato como uma paixão, realizou trabalhos de restauração de peças históricas e já vendeu bonecos para vários países.

Nhô Caboclo - Escultor e entalhador, Manuel Fontoura, o Nhô Caboclo, nasceu em Águas Belas, em data que nunca soube precisar. Viveu a infância e a adolescência numa fazenda em Garanhuns e, já adulto, mudou-se para o Recife onde ficou conhecido como "o bonequeiro de Casa Amarela". Irreverente, contador de histórias mirabolantes, ganhou fama depois que passou a produzir engenhocas como miniaturas de roda-d'água, cata-vento, casa-de-farinha e outras, utilizando-se de pedaços de madeira, lata velha, pregos, cordão e tudo o que encontrasse pela frente. Suas peças são de uma perfeição e beleza de fazer inveja. Analfabeto, dizia-se autodidata: "tiro toda minha arte do miolo do juízo, nunca aprendi nada com ninguém". No princípio, trabalhou com barro e, já no final da vida, dizia ter abandonado a talha por ser "uma peça parada", preferindo dedicar todo seu tempo na invenção de suas engenhocas. Boêmio inveterado, morreu em abril de 1976, solteiro, porque, como dizia, "sustentar uma mulher era mais caro do que sustentar uma cabra".

Severino de Tracunhaém - Severino Gomes de Freitas, o Severino de Tracunhaém, (1916-1965) foi um dos mais representativos ceramistas de Trachunhaém, cidade onde nasceu e onde trabalhou nos engenhos de cana-de-açúcar até casar com Lídia Vieira, na época uma das mais famosas ceramistas nordestinas (faleceu em 1974). De tanto observar a mulher modelando seus bonecos, deixou o trabalho na agricultura e entrou para o negócio do barro. Logo desenvolveu estilo próprio e ganhou fama como artista popular. Esculpia bichos e figuras estranhas, frades, beatas, estatuetas de Padre Cícero e outros. Suas peças, em geral medindo entre 30 cm e 50 cm, integram coleções particulares e acervos de alguns museus pernambucanos. Morreu em decorrência de esquistossomose adquirida na zona rural onde viveu.

Sílvio Botelho - Bonequeiro, Sílvio Romero Botelho de Almeida nasceu em 1956, em Olinda, onde muito jovem começou a desenhar e a fazer talhas e esculturas em madeira, gesso e barro. Depois, passou a trabalhar como ajudante de Roque Fogueteiro (um fabricante de fogos de artifício que também confeccionava máscaras carnavalescas), com quem aprendeu o ofício de modelar os gigantes bonecos do carnaval de Olinda. Em 1976, criou seu primeiro boneco, para a agremiação Menino da Tarde, vindo, em seguida, bonecos para blocos e troças como John Travolta, O Demo, A Bochecha, A Nordestina e outros. Ganhou notoriedade depois que conseguiu produzir bonecos mais leves que os tradicionais, utilizando novas técnicas e materiais sem, no entanto, descaracterizar os famosos bonecos gigantes do carnaval de Olinda.

Tita Caxiado - Entalhador, José Caxiado da Silva, o Tita Caxiado, nasceu em 1951, em Alagoinha, onde trabalhou na agricultura. Também safoneiro, em 1968 veio para o Recife, onde chegou a gravar um disco. Animado, tentou seguir a carreira de cantor em São Paulo, mas não foi bem sucedido e retornou a Pernambuco. Em 1975, condenado a oito anos de prisão, foi parar na Penitenciária Barreto Campelo, onde começou a fazer pequenas estátuas de madeira. Depois, ainda na prisão, optou pela talha.

Zé Caboclo - Ceramista, Zé Caboclo nasceu em Caruaru, em 1919. Juntamente com o Mestre Vitalino e Manuel Eudócio, formou o mais representativo trio de artistas do barro do Alto do Moura. Filho de louceira, desde criança produzia bois, cavalos e outros brinquedos de barro para vender na feira da cidade. Depois, passou aos bonecos mais elaborados -como os que representam cenas típicas do Nordeste rural ou profissionais como dentista e médico em atividade. Ousado, inovou o universo dos chamados bonecos de Vitalino, ao modelar peças como a Virgem Maria usando um vestido de cores berrantes; figuras do bumba-meu-boi, do Maracatu, além de peças de mais de um metro de tamanho, sendo metade jarra e metade estátua de personagem como Padre Cícero, Lampião e Maria Bonita. Morreu, de esquistossomose, em 1973, deixando mulher e filhos como seguidores.

Zé do Gato - Entalhador e carranqueiro, José Severino de Lira, o Zé do Gato, nasceu em Bezerros, em 1942. Filho de carpinteiro, nunca havia despertado interesse por trabalhos em madeira até que, em 1965, foi condenado a 12 anos de prisão e veio cumprir pena na antiga Casa de Detenção, no Recife, onde começou a produzir peças artesanais em chifre. Depois, passou para a madeira. Inicialmente, produzia miniaturas de carro-de-bois, barcos, jangadas etc. Posteriormente, passou a fazer talhas e carrancas.

Zé do Mestre - Vaqueiro e um dos mais famosos artesãos do couro em Pernambuco, José Luiz Barbosa, o Zé do Mestre, nasceu em 1932, na zona rural do município de Salgueiro, onde vive até hoje. Aprendeu o ofício com o pai, conhecido na região por Mestre Luiz, vindo daí o apelido de Zé do Mestre. Sua especialidade é a produção das peças que compõem os equipamentos e a vestimenta típica do vaqueiro sertanejo: gibão, perneira, chapéu, bota, luva, guarda-peito (proteção para a barriga), chicote e corda de relho para amarrar o boi, tudo no mais resistente couro. Trabalha, com ajuda da mulher, na casa onde mora, no sítio Cacimbinha, a 14 km do centro de Salgueiro. Era a ele que o compositor Luiz Gonzaga (já falecido) confiava a produção das roupas de couro que usava nos shows. Zé do Mestre já confeccionou gibão para autoridades como presidente da República, o rei Juan Carlos, da Espanha, e tem peças no Museu Missionário, no Vaticano. Depois que o tradicional vaqueiro tornou-se uma figura rara sertão e a encomenda de gibão caiu praticamente a zero, ele iniciou a produção de peças em miniatura, vendidas na feira da cidade.

Zezinho de Tracunhaém - Ceramista, José Joaquim da Silva, conhecido como Zezinho de Tracunhaém, nasceu em 1939, em Vitória de Santo Antão. Até os 20 anos de idade, trabalhou na agricultura, cortando cana. Depois, mudou-se para Nazaré da Mata, onde foi ajudante de pedreiro. Certa ocasião, ao passar por Trachunaém, interessou-se pelo trabalho nas olarias e, desse contato com o barro, surgiu o primeiro boneco -um casal de namorados- que vendeu na feira de Nazaré. Incentivado por amigos, dedicou-se exclusivamente à cerâmica e, em 1968, fixou residência em Tracunhaém. No princípio, fazia bonecos semelhantes aos do Mestre Vitalino, de Caruaru, para vender nas feiras-livres. Depois, especializou-se em santos e ganhou fama. Já participou de dezenas de exposições em todo o Brasil e tem trabalhos em museus de vários países. Além de sua técnica, os santos do artesão impressionam pelo tamanho -alguns têm dois metros de altura. A modelagem é toda à mão, com o emprego de uma espátula de madeira e outra de metal. Produz, também, figuras estranhas, como grandes jarras com cabeça de gente e outras.




ASCOM