Um dos maiores nomes do jazz traz seu projeto The Vigil
Por SILVIO ESSINGER
Foto: Divulgação/Toshi Sakurai
Um dos nomes de maior importância para o jazz após os anos 1960, o pianista americano Chick Corea, 72 anos, já está cuidando dos preparativos de viagem. Dois anos depois de vir ao Brasil com o baterista Lenny White e o baixista Stanley Clarke (seus companheiros no grupo Return to Forever), ele volta ao país como grande atração da edição de dez anos da Mostra Internacional de Música em Olinda (Mimo). Com um novo projeto, o The Vigil, ele se apresenta em praça pública nas noites de abertura das duas primeiras etapas do evento: em Ouro Preto (de 29 a 31 de agosto) e Olinda (4 a 7 de setembro). Com outras atrações, o Mimo segue em outubro rumo a Paraty (de 10 a 12) e Tiradentes (17 a 19).
— Será que eles têm algum tipo especial de prato vegetariano? Porque não tenho comido muita carne... — pergunta o músico, que pela primeira vez visita o Nordeste, antes de comemorar o fato de os concertos serem gratuitos. — Adoro, porque todo mundo pode vir, não limitam o público.
O Mimo será a oportunidade de Chick Corea apresentar aos brasileiros o repertório de “The Vigil”, álbum elétrico, mas não exatamente fusion, que lançou no ano passado com a banda formada por músicos jovens, como o baterista Marcus Gilmore (neto do mestre das baquetas Roy Haynes), o guitarrista Charles Altura e o saxofonista Tim Garland.
— A ideia por trás de “The Vigil” é que, à medida que todos os tipos de mudanças acontecem, seja na tecnologia, na música ou na política, apenas uma coisa permanece constante: a preciosa comunicação entre o artista e seu público nas apresentações ao vivo. Para mim, essa é a coisa mais importante a se preservar — diz o pianista. — Nessa banda, tenho jovens e grandes músicos, com quem eu quero aprender. Eles mantêm essa vigília, essa cultura da música ao vivo.
O time reunido o deixa absolutamente seguro no palco, afirma.
— Marcus tem sua maneira completamente própria de fazer as coisas. Então, não lhe dou nenhuma instrução, só o deixo tocar a música como ele a ouve. Já Charles fez parte por um tempo da banda de Stanley Clarke e se revelou perfeito para a minha música — conta Corea, que já havia trabalhado com Tim Garland antes numa orquestração de composições suas.
Ele traz ainda ao Brasil dois músicos que não participaram do disco: o baixista Carlitos del Puerto (“um cubano que toca acústico e elétrico, e estamos detonando juntos”) e o percussionista venezuelano Luisito Quintero (“ele e Marcus fazem uma sessão de ritmo muito quente”).
— Todas as músicas foram escritas e escolhidas para a banda. Exceto, na verdade, uma peça, chamada “Galaxy 32 star 4”, que compus para a reunião do Return to Forever, em 2008. Mas, como nunca chegamos a tocar uma música nova nessa reunião, usei isso para o “The Vigil”.
Apesar de garantir que cada projeto é um projeto, a capa de “The Vigil”, com Chick Corea vestido de cavaleiro medieval, faz referência à de “Romantic warrior”, álbum de 1975 do Return to Forever. O pianista explica:
— Engraçado isso, não é? O cara que fez essa capa, Robert Schoeller, que é austríaco, tomou como modelo a capa do “Romantic warrior” e deu a sua impressão sobre a forma como ele a via para a capa de “The Vigil”.
Por seu caráter eletroacústico, seria “The Vigil” uma síntese de todos os trabalhos de Chick Corea até hoje?
— Você pode dar a opinião que quiser, porque é isso que faz o mundo girar. Eu não faço análises. Para mim, essa é a minha nova banda. Todos os meus projetos são obras em progresso, algo que continua. Não é algo que está sedimentado na minha mente. Então, estou ansioso para essa turnê que vamos fazer pela América do Sul, que vai ser realmente divertida.
PLANOS PARA O FUTURO
Provavelmente o cientologista de maior visibilidade no mundo da música (assim como Tom Cruise o é no cinema), Chick Corea não esconde as referências em “The Vigil” às ideias de L. Ron Hubbard, o criador da doutrina.
— Hubbard é um grande humanitário, e alguém que continua a me inspirar. Ele é parte da minha vida desse ponto de vista — conta. — Mas, no disco, não se trata de incorporar ideias. É aprendizado e inspiração. É como ser inspirado por John Coltrane na música. L. Ron Hubbard deu ao mundo uma abundância de ideias práticas de como melhorar a vida, e eu uso tantas quanto posso.
Um grande fã da música brasileira (“Em meus shows de piano solo, costumo tocar música de Tom Jobim, ele é um dos grandes compositores de todos os tempos”), Chick Corea segue em movimento — já tem tudo pensado para antes e depois do Mimo.
— Dentro de algumas semanas, vou encontrar (o vibrafonista) Gary Burton na Austrália e começar meu dueto com ele. Consigo separar completamente os projetos — assegura. — Para 2015, tenho concertos já se confirmando com o meu amigo Herbie Hancock. Estamos fazendo alguns shows em duo. E, no ano que vem, também me apresentarei com Bobby McFerrin. Além disso, estou escrevendo para o Vigil algo que vai ter um pouco de molho de salsa latina.
Fonte: O globo
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