Durou pouco o cessa-fogo humanitário promovido pela Cruz Vermelha para evacuar palestinos de um bairro de Gaza. O governo de Israel e o Hamas tinham combinado neste domingo (20/07) uma trégua humanitária de duas horas no bairro de Shayahía, na cidade de Gaza, que foi intensamente bombardeado na noite de sábado.

No momento em que o exército de Israel confirmou que aceitava o cessar-fogo, uma procissão de ambulâncias e viaturas de resgate se dirigiu ao bairro. Entretanto, poucos minutos após o começo da trégua humanitária, recomeçaram as explosões, causando caos na caravana de ambulâncias.

De acordo com o porta-voz do exército israelense, os ataques continuaram porque integrantes do Hamas não cumpriram com o cessar-fogo combinado.

Durante toda a madrugada Shayahía foi atingida por intensos bombardeios. A região é uma das mais populosas de Gaza, com aproximadamente 40 mil habitantes. Segundo o Ministério da Saúde em Gaza, 40 pessoas morreram e 400 ficaram feridas neste bairro em ataques que foram qualificados, em comunicado, de “verdadeiro massacre contra civis”.

Com estes ataques, se aproximam dos 390 as vítimas mortais em Gaza, enquanto o número de feridos supera os 3 mil, desde o início da operação militar israelense, 12 dias atrás.

Reação do Egito

O governo do Egito condenou neste domingo a última escalada nas operações militares israelenses na Faixa de Gaza, concretamente no bairro de Shayaia, enquanto continua com seus contatos internacionais para conseguir um cessar-fogo definitivo na região. O Ministério das Relações Exteriores egípcio lamentou, em comunicado, a morte de “inocentes” nesse bairro.

O chefe da diplomacia egípcia, Sameh Shukri, reiterou o respaldo do governo do Egito ao povo palestino “nesta crítica etapa que atravessa”. Shukri continuou seus contatos nas últimas horas para analisar a situação em Gaza. Ele conversou por telefone com seus colegas dos EUA, John Kerry; de Omã, Youssef bin Allawi; e do Bahrein, Khaled bin Hamad al Khalifa; assim como com o negociador palestino, Saeb Erekat.

O Egito – tradicional mediador entre Israel e os palestinos – defende que é necessário chegar a uma cessação das hostilidades mediante seu plano. Além disso, há outros países com possibilidades de mediar e que contam com maior boa vontade do movimento islamita palestino.

Por isso, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, manteve ontem reuniões na Turquia e hoje se dirige ao Catar. Está previsto que se encontre em Doha com o emir catariano, At-Ta’mim bin Hamad al Thani; com o líder do Hamas, Khaled Meshaal, e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Corrida pela vida

Milhares de pessoas tentam abandonar o bairro de Shujaiya, no leste da Faixa de Gaza, objeto desde ontem à noite de intensos e repetidos bombardeios do Exército israelense por terra e ar. Segundo testemunhas, pelo menos uma dezena de pessoas morreu hoje em vários ataques israelenses sobre casas deste populoso bairro, objeto ainda de fortes bombardeios a esta hora do dia.

Responsáveis de saúde temem que o número de mortos possa crescer de forma considerável ao longo do dia, pois a população que foge fala de uma grande destruição. Além disso, os serviços de emergência não podem chegar à zona devido à intensidade dos tiros de canhão, que se repetem a cada dez segundos.

O Exército israelense intensificou esta noite sua incursão terrestre em Gaza, penetrando mais rumo ao interior, depois que em apenas 72 horas cinco soldados morreram em combate.
Cronologia das tensões

A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.

Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.

A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas, que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.


Opera Mundi e Efe
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