Há duas décadas, tomar banho de mar em alguns trechos do litoral pernambucano tornou-se um perigo. Neste período, os ataques de tubarões passaram a ser frequentes. 
Um dos principais fatores de risco é a existência de uma rota por onde nadam os tubarões à procura de alimentos: um canal que fica paralelo à linha da praia, com aproximadamente um quilômetro de largura e oito metros de profundidade. Conhecer este detalhe geográfico pode reduzir as chances de ataques, principalmente porque, em alguns pontos, o canal chega a se distanciar apenas 20 metros da área da praia.

O canal se estende da orla de Cadeias, em Jaboatão dos Guararapes, ao Pina, na Zona Sul do Recife e, segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), as praias de Boa Viagem e a de Piedade, juntas, registram números assustadores de ataques. Quase 70% das ocorrências, sendo a mais recente no último dia 22 de julho, quando a turista paulista Bruna Gobbi, 18 anos, morreu após ser atacada por um tubarão em Boa Viagem.
Depois que Bruna foi vitimada, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) enviou ao Governo do Estado uma recomendação para que proibisse o banho de mar em áreas de risco, mas o Governo decidiu não acatar. O documento também recomenda a colocação de redes protetoras e incentiva a divulgação de uma campanha educativa. Segundo o promotor Ricardo Coelho, na maré cheia, há trechos em que a área de risco fica a cinco metros da praia. “As pessoas tomam banho praticamente dentro do canal”, alerta.
Uma das maiores autoridades no assunto, o professor Fábio Hazin, do Departamento de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), explica que de fato há áreas de grande aproximação, mas seria necessário um levantamento mais detalhado. Também coordenador dos trabalhos no Sinuelo - embarcação responsável por monitorar os tubarões nas praias do Estado -, ele diz que em vários trechos existem correntes de retorno e seria importante sinalizá-las. “Não é possível precisar exatamente os pontos dessas correntes, só com estudo”, diz.
No entanto, supõe-se que esses pontos estariam relacionados com a maior incidência de ataques, a exemplo de locais como os edifícios Acaiaca e Castelinho, além da Igreja de Piedade, responsáveis por 17 dos ataques no total de 59. O professor Fábio Hazin acredita ser importante sinalizar estes locais com bandeiras vermelhas, alertando tanto para o risco de afogamento como de ataques, porque um fator pode levar ao outro, como aconteceu com a turista Bruna Gobbi, que primeiro foi arrastada por uma corrente de retorno, entrou no canal, e posteriormente foi atacada por um tubarão. “A sinalização desses locais vai reduzir os riscos de ataque”, enfatiza. “Queremos a interdição dos trechos de alto-risco e também uma ampla campanha de divulgação, porque a população precisa conhecer os riscos”, acrescenta o promotor.
Fonte:Folha-PE/Foto:Arthur Mota