O renomado diretor de cinema e músico sérvio Emir Kusturica gravará um documentário cinematográfico sobre a vida do presidente do Uruguai, José Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaro de 78 anos. O anúncio foi feito semana passada por fontes oficiais uruguaias.


Foto: Divulgação

Segundo o Ministério de Transporte e Obras Públicas do Uruguai, que casualmente administrou o acordo, o projeto se chamará “O presidente do povo” e terá um orçamento de 3 milhões de dólares.

O acordo com o cineasta foi fechado na semana passada na Bélgica, onde Kusturica se reuniu com assessores do ministro uruguaio dessa pasta, Enrique Pintado. Eles conheciam o interesse do diretor pela figura de Mujica, embora as gestões tenham começado há nove meses por iniciativa do próprio cineasta.

O projeto não usará imagens de ficção, mas utilizará imagens de arquivo e diversas reuniões entre o diretor e o presidente do Uruguai. Elas ocorrerão a partir de dezembro.


Presidente mais pobre do mundo ainda anda de fusca e doa 90% do salário



Como prometido antes da eleição, o presidente do Uruguai José Pepe Mujica ainda mora em sua pequena fazenda em Rincon del Cerro, nos arredores de Montevidéu. A moradia não poderia deixar de ser modesta, já que o dirigente acaba de ser apontado como o presidente mais pobre do mundo.

Pepe recebe 12.500 dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares ou 2.538 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro é distribuído entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação.

“Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos”, diz o presidente.

Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando a companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder.

Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen cor celeste avaliado em pouco mais de mil dólares. Como transporte oficial, usa apenas um Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucía Topolansky também doa a maior parte de seus rendimentos.

Pepe Mujica: “Pobre é quem precisa de muito para viver”



O presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou em entrevista concedida na última sexta-feira à rede estatal chinesa Xinhua que não concorda com o título que lhe foi atribuído pela imprensa internacional de “presidente mais pobre do mundo”, em razão de seu estilo de vida simples. Segundo ele, esse título é incorreto porque “pobres são aqueles que precisam de muito para viver”. Segundo ele, sua vida austera tem como objetivo “manter-se livre”.

“Eu não sou pobre. Pobre são aqueles que precisam de muito para viver, esses são os verdadeiros pobres, eu tenho o suficiente”, afirmou.

“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo, porque para viver não preciso muito mais do que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é ter tempo para fazer o que se gosta”, disse o presidente. Ele considera que o indivíduo não é livre quando trabalha, porque está submetido à lei da necessidade. “Deve-se trabalhar muito, mas não me venham com essa história de que a vida é só isso”.

Assim como já fez com outros correspondentes internacionais, Mujica recebeu a equipe de reportagem chinesa em sua modesta propriedade rural em Rincón del Cierro, nos arredores de Montevidéu, ao lado dos cães e galinhas que cria e alimenta todos os dias.

Aos 77 anos, Mujica doa 90 % de seu salário de 260.000 pesos uruguaios (quase 28 mil reais) a instituições de caridade. Não possui cartão de crédito nem conta bancária. Sua lista de bens em 2012 inclui um terreno de sua propriedade e dois com os quais conta com 50% de participação, todos na mesma área rural – diz ter alma de camponês, e se orgulha de sua plantação de acelgas, e já pensa em voltar a cultivar flores.

Segundo o presidente uruguaio, essa opção de vida foi gestada durante os anos em que viveu preso sob duras condições (1972-1985) em razão de sua atividade como guerrilheiro como membro do MLN-T (Movimento de Libertação Nacional – Tupamaru), movimento que lutou contra a ditadura militar.

“Por que cheguei a esse ponto? Porque vivi muitos anos em que, quando recebia um colchão à noite para dormir já me dava por contente. Foi quando passei a valorizar as coisas de maneira diferente”, disse ele sobre seus tempos de cárcere, quando disse ter passado a conversar com rãs e formigas para “não enlouquecer”.

Ele afirmou duvidar que a próxima eleição presidencial, marcada para 2014, vá atrapalhar sua gestão, e se diz animado com um projeto pessoal para quando deixar o Executivo, em março de 2015: “Quando terminar esse trampo (changa em espanhol, referindo-se à Presidência) que tenho agora, vou me dedicar a fazer uma escola de trabalhos rurais nesta região”.

“O governo funcionará até o último dia, mas já adianto que após as eleições os governos uruguaios costumam tomar medidas de impacto”, quando espera avançar medidas de infraestrutura sobre portos em águas profundas e a renovação da rede ferroviária, além da lei de regulação da mídia.

Quando perguntado se após deixar o governo ele tentará acumular fortuna, ele disse: “Depois terei de gastar tempo para cuidar do dinheiro e muito mais tempo da minha vida para ver se estou perdendo ou ganhando. Não, isso não é vida”, enfatizou.

Fonte: Pragmatismo Político