A indústria fonográfica no Brasil teve sua primeira fábrica de discos – a Odeon – por iniciativa do imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner [Fred Figner]. A Odeon foi instalada no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, e manteve a liderança até 1924, quando o processo de gravação elétrica foi criado pela Victor Talking Machine, uma revolução na história da indústria fonográfica. Produziram-se, assim, os discos de 78 rpm (rotações por minuto) que reinaram até a década de 1960 e foram substituídos pelo LP (long playing = longa gravação), contendo entre quatro e doze músicas. No período de 1930 a 1960, o número de fábricas fonográficas no Brasil passou de três (Odeon, Victor e Colúmbia) para 150.



Dentre tantas, a única grande gravadora brasileira localizada fora do eixo Sul-Sudeste do País foi a Fábrica de Discos Rozenblit, que funcionou no Recife entre os anos de 1954 a 1984.

O comerciante José Rozenblit, criador da Fábrica de Discos Rozenblit Ltda., era proprietário de um estabelecimento comercial, as Lojas do Bom Gosto, que ficava próximo à Ponte da Boa Vista, no centro do Recife.

Lá, o cliente dispunha de seis cabinas, onde podia ouvir os álbuns antes de comprá-los ou não. Também podia se encontrar uma cabina especial de gravação, onde o cliente podia gravar jingles ou sua voz em acetato – algo raro no país. A Loja não vendia apenas discos, ela também comercializava eletrodomésticos e móveis modernos, contudo, os vinis eram os responsáveis pela sua fama na cidade. Vez por outra, artistas plásticos locais expunham seus trabalhos no espaço físico da loja(FÁBRICA..., 2005).

Dessa forma, Rozenblit se tornou conhecido entre artistas e intelectuais da cidade. Em 1953, gravou duas composições de frevo (que foram prensadas no Rio de Janeiro) escolhidas pelo maestro Nelson Ferreira – o frevo de rua Come e Dorme e o frevo-canção Boneca. O primeiro de autoria do próprio maestro e o segundo de José Menezes e Aldemar Paiva.



Esse fato foi decisivo para a criação da Fábrica de Discos Rozenblit. Em sociedade com os irmãos Isaac e Adolfo, a Fábrica, fundada em 11 de junho de 1954, e instalada na Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados. A estrutura abrigava dependências que serviam adequadamente ao processo de produção de discos, desde a gravação até a comercialização. Possuía um estúdio que comportava uma orquestra sinfônica e um moderno parque gráfico.

A criação da Fábrica quebrou o sistema de dependência de uma indústria estrangeira, a RCA-VICTOR, para a produção e divulgação de discos de frevo e favoreceu a gravação de outros ritmos pernambucanos como o baião, coco, xote, maracatu, ciranda. Aliás, a preocupação com a música local e regional caracterizou a produção da Rozenblit que, esporadicamente, também produziu alguma coisa do eixo Rio-São Paulo. Abriu filiais no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e investiu no mercado nacional: lançou artistas como Zé Ramalho e Tom Zé e sucessos de grandes compositores como Pixinguinha, Tom Jobim e Ary Barroso.

A Rozenblit também foi responsável por muitos sucessos internacionais. Parceira de gravadoras estrangeiras como Mercury, Barclay, Kapp entre outras, as matrizes de discos estrangeiros eram compradas, prensadas e embaladas e, dessa forma, a Rozenblit lançou no Brasil artistas como Steve Wonder, Diana Ross, Louis Armstrong.

A Fábrica de Discos também se dedicou a gravar vozes de escritores pernambucanos ora em prosa ora em versos, a exemplo de Gilberto Freyre, Ascenso Ferreira e Mauro Mota.

A marca visual dos discos da Rozenblit passou por vários selos de identificação onde o mais conhecido foi o Mocambo, utilizado desde 1953. Outros selos utilizados foram:Passarela, AU (Artistas Unidos), Arquivo, e o Solar.


Coube a Fábrica Rozenblit o pioneirismo de gravar um disco do bloco O Bafo da Onça, um dos mais conhecidos do carnaval carioca. No fim da década de 1960, gravou ao vivo as doze músicas classificadas do II Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record, São Paulo. Entre elas: Disparada, de Geraldo Vandré, e A Banda, de Chico Buarque. 

O inovador movimento Udigrudi – o movimento contra-cultural recifense que conciliava o rock psicodélico e a música regional, ilustrado não apenas pela música, mas também por peças teatrais, textos, cinema, artes plásticas e até artesanato – teve vez na Rozenblit. Dessa experiência, foram produzidos os discos Satwa (todo instrumental), de Lula Cortês e Lailson, e o Paêbirú-a caminho da montanha do sol, de Lula Cortês e Zé Ramalho, que também reuniu grandes nomes como Geraldo Azevedo e Alceu Valença.

O maior sucesso nacional da Rozenblit, entretanto, foi o frevo Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, seguido da marcha-rancho Máscara Negra, de Zé Keti e Pereira Matos, e Maria Betânia, de Capiba.


Embora o pioneirismo na divulgação da música nordestina e regional e, com menos frequência, da música nacional resultasse no sucesso da Rozenblit, a competição com as gravadoras multinacionais enfraqueceu sua trajetória ascendente. As dificuldades financeiras começaram a surgir e se agravaram quando a Fábrica foi atingida pelas enchentes de 1966, 1967, 1970, 1975 e 1977. Em 1966, a Fábrica foi praticamente arruinada. Contando com a ajuda oficial e privada foi restaurada em alguns meses. Em 1967, a enchente destruiu quase tudo e a Rozenblit ficou funcionando precariamente. Em 1975, a ajuda veio do governo do estado de Pernambuco que, por intermédio do Condepe, concedeu empréstimo para compra de equipamentos para soerguer a Fábrica. 

Na década de 1980, depois de muitos anos de sucesso e alguns de perda e grandes dificuldades financeiras, a Fábrica de Discos Rozenblit encerrou suas atividades.

Fonte: Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco/Virgínia Barbosa