Relutei durante um tempo a escrever este artigo sobre a festa que já cheguei a planejá-la com outros colegas por oito anos. Sou do tipo que não aprova críticas que não contribuam com o crescimento e o favorecimento da nossa maior festa por razões de ordem social, cultural e econômico. Porém, depois de ouvir tantos comentários, ao vivo ou pelas redes sociais, de artistas, jornalistas e cidadãos revoltados com os desmandos e desrespeito que explodiram nos festejos deste ano, não me omitirei.

Antes de tudo, não critico o formato, por entender que ele irá perdurar por muito tempo, face a sua estrutura social tão evidente nos dias de hoje. Depois, afirmo que mesmo parecendo o contrário, a participação dos artistas da cidade tem se evidenciado ano após ano, ou seja, nenhuma gestão cometeria o erro absurdo de deixar que estes espaços sejam ocupados por forasteiros. Mas a análise fria para por aqui. O que temos acompanhado ao longo dos últimos cinco anos é uma verdadeira desconstrução dos valores essenciais à sobrevivência do São João.

Até pouco tempo atrás, durante a festa, a qualquer hora do dia ou da noite, a gente se deparava com a efervescência da cultura popular que sempre deu a “liga” para que o povo se identificasse com suas raízes, seja o de casa, sejam os turistas que chegavam antes não só para assistir aos shows, mas ver de perto as bandas de pífanos perfilados e tocando, bacamarteiros animados e pomposos que espocavam sustos e magia dos seus bacamartes, da irreverência do grupo de teatro que alegrava o público com brincadeiras e tiradas de humor, sarcasmo e inteligência, da bandeirola, que junto ao balão e a sanfona, reina soberana no imaginário popular. É ela, a bandeirola, que nos remete à festa da infância, mais até do que a fogueira.

Assistimos hoje à substituição de tudo isto pelo aço e pelo plástico, tão somente. Entre a lógica de manter os elementos símbolos da nossa cultura, optou-se pelo excesso de uma tal beleza estética exarcebada. Então, imagens passaram a ser “melhores” que realidade e chegamos ao cúmulo do gigantesco telão de LED exibi-las, simbolizando uma tecnologia inócua.

O São João de Caruaru vive hoje, assombradamente, o drama da grama sintética. Faz tudo que a grama natural faz, é tão bela quanto, tem as mesmas “atribuições”, mas quando chove, não tem cheiro e sem cheiro não há lembrança e sem lembrança não tem futuro.

Esta atual administração tem três anos ainda para mudar o próprio cenário nefasto que criou e tirar de si a certeza de descaso com o patrimônio histórico e cultural da cidade, algo muito difícil à dura e feia característica de sua gestão. O desrespeito à festa e aos artistas é tão claramente constante, que o desabafo de Azulão, Santana, Novinho da Paraíba, Brasas do Forró e tantos outros não podem cair no esquecimento. E olha só. Eles não fazem parte do grupo de bandas de forró estilizado, nem sertanejo. São eminentemente ícones do forró autêntico.

Claudio Soares é assessor parlamentar da Assembleia Legislativa de Pernambuco e coordenador geral do São João da Moda de Santa Cruz do Capibaribe